17 de novembro de 2016

O leão e a brasa

Uma fábula minha encontrada no meio de um monte de papéis, com alguns ajustes e complementos.

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No meio da savana africana, habitava a mais formosa das leoas: Brasa. Não havia um só animal no reino que não a desejasse. Seu modo de andar encantava a todos, que a enxergavam como um anjo. Assim, ela conseguia tudo o que queria sem usar a força - não que esse talento lhe faltasse, ela apenas concentrava suas energias em outros músculos. 

Existia, entretanto, um leão insatisfeito com o poder de Brasa: o rei Faro. Egocêntrico e feroz, ele não era respeitado; era temido. Nenhum animal ousava aproximar-se dele a não ser que sua presença fosse requisitada, já que não comparecer, nesse caso, era assinar a própria morte. 

Certo dia, desejando livrar-se de Brasa, pediu que se encontrassem no topo da colina. Faro não foi sozinho; certificou-se de esconder cinco outros leões nas moitas ao redor. A leoa chegou caminhando brandamente, sem demonstrar qualquer sinal de ansiedade.

- Então, Majestade. Cá estou. O que deseja?

- Temos assuntos pendentes. - murmurou o rei.

- Assuntos pendentes? - debochou graciosamente, Brasa. - ora, rei Faro, qual a honra?

- Você já ouviu a proposta antes, não finja que se esqueceu... posso lhe dar tudo, amor.

- Ah, a proposta? Essa proposta! Ouvi sim, Majestade. E respondi com um sonoro não.

- Brasa, Brasa... tão bonita e tão tola... ser minha lhe daria prestígio, soberania, poder. Amo-te, Brasa. Estou lhe dando uma escolha, pense bem.

A leoa levantou a cabeça e começou a rodear o leão, observando-o de cima a baixo até parar novamente de frente a ele e fitá-lo com um sorriso irônico.

- Majestoso, magnífico, soberano... como é que essa floresta inteira lhe chama assim? Quer me convencer a ser sua esposa dizendo que me trará poder? Ser submissa ao senhor me dará poder? Ah, meu querido, eu realmente acreditava que você podia fazer melhor do que isso. 

O olhar de Faro tornou-se um misto de ódio e confusão, trazendo ainda mais satisfação a Brasa, que prosseguiu:

- Não se trata de me querer, não é mesmo? É tudo sobre o seu ego. Causa-lhe inveja o modo como me tratam, como me respeitam, como me veneram mais do que veneram o rei. Sabe, Faro... pode parecer a muitos que eu seja ingênua. Beleza não anula inteligência, sabia? Bem, no seu caso, a segunda qualidade parece estar mais em falta. O seu erro, Faro, foi confiar demais em meus olhos. E nos seus.

No mesmo instante, um bando de corvos surgiu, atacando os aliados camuflados do rei. Perplexo, ele tentou fugir, mas foi impedido pelas garras de Brasa, que pulou em cima do leão e arrancou-lhe sangue com os afiados dentes. Faro deu um rugido abafado pela dor e implorou que Brasa o deixasse viver. O medo estava presente em sua voz como ela nunca ouvira antes e era mais do que prazeroso sentir a arrogância e o desespero se fundindo entre suas garras.

- Quer saber o meu erro, Majestade? Não ter feito isso antes. - dizendo isso, a leoa usou toda a sua força e empurrou o leão da colina. - Tão bonito e tão tolo...

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