25 de janeiro de 2017

Sobre a gente ser um remix clichê de merda


Tudo relativo ao assunto "originalidade" sempre me intrigou. O que, de fato, é ser original? É possível sê-lo em um mundo tão vasto e corrente, onde tudo o que poderia ser inventado parece já existir?
Eu observava certas invenções com meus enormes olhos acusadores e pensava: "isso eu já vi em algum lugar, definitivamente é um plágio". Até que eu assisti um documentário chamado "Tudo é um remix".
Caramba, foi uma experiência tanto devastadora quanto fascinante. Estava eu lá, sentada na cadeira desconfortável do colégio, tentando camuflar o quão transformada eu me sentia. De repente, tudo fazia sentido.
Tudo é um remix e todos somos um remix, e isso é lindo, tão lindo, e saber disso, altamente revelador e libertador.
Todas as vezes que eu vejo uma discussão sobre os limites entre a inspiração e o plágio em grupos de escritores, eu me lembro das imagens daquele documentário. Eu me lembro o quanto mesmo os clássicos são espelhos de outros ainda mais antigos, apenas com desenvolvimentos e palavras diferentes. É claro que precisamos pensar essa discussão e debater a respeito, porque a cópia descarada existe. Mas não nos aprofundemos nisso.
O que eu quero dizer aqui se resume a uma simples frase: cada um de nós é um bendito (ou maldito) remix.
Nós somos uma composição de tudo aquilo que nos cerca. Somos como grandes esponjas, absorvendo tudo que nossos dedos tocam.
Eu não sou apenas eu. Eu sou a pessoa que eu cumprimento na rua, eu sou a risada contida da minha irmã mais nova, eu sou o jeito estranho de esfregar os olhos da minha melhor amiga.
Eu sou cada música que eu escuto e cada música que eu canto, cada história que eu leio e cada história que eu escrevo. E dessa forma, cada história que eu escrevo tem um pedaço das histórias que leio, assim como as melodias das músicas que penetram meus ouvidos se fundem e se confundem, ora harmonicamente, ora em total desarmonia.
Somos resultado de cada uma das nossas experiências, pois como é dito na minha citação favorita, nenhum de nós é uma ilha - e não há como ser, nem mesmo com enorme esforço.
E se nós resultamos de nossas experiências e cada ser humano possui vivências diferentes, todos nós somos únicos, peculiares, originais. A única patente possível é a que temos de nós mesmos. A originalidade está em nossas veias, circulando por cada pedacinho do nosso corpo, adentrando cada órgão, cada célula, cada átomo, cada próton, cada indício de vida.
O mistério maior da vida, tirando nós mesmos e nossos desejos inconscientes e insensatos, é o desconhecido que não habita nossa própria pele, que existe por possuir um conjunto de experiências particular e que, por isso, tenta recriar o mundo de acordo com o que seus olhos veem, de acordo com o que seus instintos mandam.
É tudo um grande clichê, exceto pela essência indecifrável nos olhos e nas mãos de cada um de nós. E então, nada é um clichê.
Somos todos a droga de um remix e temos de aprender a lidar com isso, porque embora seja assustador, sufocante e até mesmo revoltante para os seres extraordinários que somos, por estarmos sempre querendo expor o que nos particulariza sem que nos desvinculemos do meio social, é uma verdade quase tão bonita quanto o brilho das estrelas.

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