1 de fevereiro de 2017
Manteiga derretida: não há arrependimentos por lutar
cheiro de manteiga derretida ainda me embrulha o estômago.
do estourar dos balões neon até o tinido das suas solas gritando pelo fim das andanças.
da última gota de inocência, da primeira grande dança.
dançamos em um cubículo até não sentirmos mais nossos pés e nesse ponto de dormência, estávamos ainda tão vidrados e enérgicos
e confiávamos tanto em nós mesmos e no universo, que nunca imaginaríamos que o chão estava forrado por cacos de vidro.
e nós só soubemos na manhã seguinte
quando o anestésico injetado em nossas veias chegou ao fim
e doeu
em proporções desiguais.
antes durante e depois
os meus lábios disseram a verdade
enquanto os seus recitaram apenas uma parte.
e você ao menos usava meias. eu estava a mercê, completamente descalça. tão descalça que ainda tem vidro dissolvido no meu sangue, apenas esperando para deixar de estar dormente.
e é fácil acionar o gatilho, tão fácil. não é preciso derreter manteiga nem aumentar o som nem cobrir o ar por fumaça. basta que nada faça sentido tanto quanto nós nunca fizemos. basta que um toque seja tão errado quanto o nosso foi certo. que o céu vermelho esteja ocupado e aberto.
tenho plena ciência de que eu provavelmente deveria parar de fazer comparações e de desejar em vão que não exista entre nós um oceano ridiculamente grande.
eu provavelmente deveria parar de fingir que não sinto muito e que nenhuma das minhas palavras se dirigem a você.
eu provavelmente deveria soltar esse fio cheio de cerol e permitir que cicatrize e me deixar ser embalada por novas tonturas e novos sabores e novos cheiros.
sei bem de tudo isso, mas a manteiga insiste em voltar e meu estômago, em se revirar, e meu coração, em se apequenar.
é um cheiro que sempre dá um jeito de me encontrar pra dizer em um tom dilacerante que não importa o quanto eu tente
nada vai ser tão bom quanto manteiga derretida e água de torneira e caracóis exóticos.
(eu odeio não ter ficado com a parte que se regenera)
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