12 de junho de 2018

I once was lost, but now am found


alguém que penteava meus cabelos de um jeito muito bruto e me buscava na aula de canto toda terça costumava me dizer que "o amor não machuca" e, em uma pausa dramática, completava que "o que machuca é a falta dele". falava feito um sábio. eu balançava a cabeça e dava uma risada baixa, quase imperceptível. queria que ele continuasse dizendo coisas feito um sábio, mas achava aquilo óbvio demais. parecia óbvio pra uma garota sonhadora e romântica que o amor não machucava. na teoria. na prática, não muito.

quem me falava isso não era exatamente o melhor exemplo. quer dizer, ele sabia me amar. amor terno. mas quando se tratava de amor romântico, ele passava muito longe de saber. e eu via sem perceber que ele não sabia. e absorvia aquilo que eu via sem saber o quanto não só ele como tudo ao meu redor deturpava minha visão do que era amor embora me entregasse palavras que eu considerava ensinamentos óbvios. comecei a pensar que eu era idealista demais e que deveria aceitar a realidade como ela era: menos bonita. talvez o amor fosse uma mistura do bom e do ruim. mas nas minhas preces silenciosas eu ainda gostava de pensar que ele não machucava.

o óbvio virou dúvida e duas versões opostas começaram a coexistir na minha cabeça. quando alguém me ofereceu amor pela primeira vez, eu optei por aceitar a versão que a vida me mostrou ao longo dos anos. a de que era difícil e de que contanto que o lado bom estivesse acima do ruim, estava tudo bem, ainda valia a pena, mesmo que doesse. machucava sim. algo me dizia que sentir aquela angústia toda era errado. e no final das contas era mesmo.

quando ele apareceu do jeito certo, estranhei. ele tava lá, batendo na minha porta. ele, que não machuca. pelo olho mágico, quase que não reconheço. me assustei. recusei e me escondi até não ter mais jeito. até eu criar coragem pra abrir a porta. então ele veio, e quando não me machucou, parecia absurdo. cada toque, um respiro aliviado. peso a menos. paz. nada de ruim, nada de amargo. denso, mas leve. foi quando eu soube que aquelas palavras eram reais. foi quando eu soube que era amor. e sabendo, eu jamais vou saber como continuar um texto depois que eu digo que é amor. quer dizer, eu poderia continuar. mas então eu não saberia onde parar. é amor.

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