23 de julho de 2013

Lá vou eu


Eu quero saber que o telefone vai tocar e não imaginar que possa ser você. Eu quero escrever um verso sem lembrar que você existe. Eu quero saber que você existe e comemorar tal como eu comemoro a existência do apêndice. As notas que saem da minha voz se desafinam entre si. De um lado, umas gritam teu nome. Do outro, gritam por silêncio. E eu sei que todas elas pertencem a mim, o que me deixa mais perdida. Sim, a verdade é essa. Eu estou completamente perdida. Eu tento me forçar a esquecer tudo que aconteceu antes daquele adeus. Tento te odiar, mesmo que só por um instante. Eu insisto em expulsar esse ridículo sentimento pra fora de mim. O exército que convoquei pra lhe deter é grande; mas fraco. Eu juro que estou lutando com todas as minhas forças. Algumas até peguei emprestadas. Tentei de todas as formas não precisar usar mais palavras do que já usei. Tentei de todas as formas seguir em frente. A estação estava tão cheia naquele dia e mesmo assim eu só enxergava você no meio daquela multidão. Tua partida partiu meu coração. E tudo que eu conseguia pensar era se um dia você me enviaria cartas. Se um dia você se lembraria daquele verão e ligaria de madrugada só pra ouvir minha voz. Me perguntava se um dia eu poderia te ver voltando. Mas agora eu preciso ser realista. Você não me ligou. Você não me enviou cartas. Nem ao menos um telegrama. Se eu tivesse duas palavras tuas em mãos, bastaria. Meu mundo se iluminaria e essas palavras seriam o meu gás por um bom tempo. E mesmo assim. O tempo passa. Dormi no verão e acordei no inverno. Passaram-se alguns meses que eu sinto como se fossem anos. A saudade, meu caro, é grande. O amor maior ainda. Mas a vontade de ser feliz vence qualquer sentimento que possa existir. Eu sei que sempre vão existir vestígios teus em mim. Sei disso tanto quanto sei que lhe amo. Mas sei também que a chuva passará e levará consigo o que sobrou de ruim da nossa história. E eu correrei pra bem longe dela com toda a calma que há no mundo. Correrei e pegarei o trem que vai pro lado oposto ao teu. Me desculpe, lá vou eu.


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