20 de abril de 2014

Sinto


"Tão bom morrer de amor e continuar vivendo", já dizia Mário Quintana. Morrer de amor a cada instante, a cada sorriso, a cada olhar. Sinto isso tão frequentemente quanto um tropeço no caminho de volta pra casa. Não é que seja aquele sentimento extremamente vermelho.

Meu amor é a chama de uma vela bem pequena, que tomba pro lado e acende outra vela, criando esse dominó de velas que faz brilhar meu coração quase que o tempo todo, dando a mim apenas pequenos intervalos pra respirar. E nesses pequenos intervalos, quando não te amo, invento nossa história. Crio enredos intermináveis cheio de laços coloridos balançando, girando, desenhando no horizonte todos o meu amor.

Esse meu amor é uma história à parte. Parece que tem vida própria, cria suas pernas e passeia por aí enquanto eu descanso dele. Um gigante instável e imensurável que eu não faço a menor ideia de onde surgiu. Todos os dias antes de dormir ele me pergunta a mesma coisa: "qual minha função?". Não sei, não sei. Eu procuro desviar o assunto, mas ele repete constantemente a pergunta e eu só fujo. Fujo porque sei ainda menos do que ele. Sei que ele existe, que me adentra, que sabe sussurrar tanto quanto gritar, sem avisos ou orientações. Faz-me sentir um gravador, porque de alguma forma traz pra mim lembranças absurdas, cheiros inexplicáveis, efeitos sonoros que me encantam.

Clamo por socorro, pra que você possa me ajudar a expulsar isso do meu corpo. E que leve todos esses brindes consigo, que me esqueça, que não volte. E então penso que ao mesmo tempo que meu amor parece não ter função, eu quero ele comigo. Eu sei, ele me traz sensações que eu prefereria não ter, rompe meus tímpanos e entope meus poros. Meu coração às vezes chora por ter que abrigar tamanho amor. Minha pulsação acelera o tempo inteiro, à medida que o coração chora.

Aparentemente, era pra ser ruim. Mas não é. O meu amor me é necessário. Um mal bom. Por enquanto, ele tem seus lados negativos. Quem sabe, para sempre tenha esse título. Mas o que é que posso fazer? Eu o amo. É esse amor que me faz nascer de novo todos os dias. Morrer antes, é claro. Porém, como já citado na primeira linha: "tão bom morrer de amor e continuar vivendo".

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