9 de agosto de 2023

Lutosplaining

às vezes dias ruins começam com um metrô perdido, cheio de gente, fechando a porta antes que eu possa colocar meus dois pés pra dentro. às vezes começam como um dia bom, o metrô vazio, ufa, entrei, me sentei, abri meu livro, cheguei, e então, eu tenho de ouvir por duas horas alguém me explicando e me questionando sobre o significado de luto, de perda, de dor da ausência, como se esse sentimento não tivesse cavado um buraco no meu peito que eu sei, eu sei que não vai ser preenchido nunca.

sentimento de luto não passa, sabia? dor não ameniza, sabia? compreensão não vem fácil, eu nunca disse que viria, ninguém nunca ousou dizer. pobre paga funeral com vaquinha? disso eu sei como você não sabe. de tudo isso eu sei bem, como alguém que carrega um corte de papel na orelha.

sabe, papai, eu penso que você riria disso comigo. em parte, é esse pensamento que me faz cócegas na ferida e é também o que me impede de desistir em dias difíceis. mas será que eu não deveria pensar o contrário? às vezes, muitas, tudo que eu queria era desistir, deixar o que me machuca ir embora, dar menos chance pros dias ruins, começar de novo, tentar um caminho diferente, inesperado, que me dê sentido, que não me explique como funciona isso de perder o caminho de volta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário